Por Gary North
E o ouro dessa
terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica. (Gênesis 2:12)
O princípio teocêntrico aqui é a doutrina da imputação
de Deus: execução de julgamento. Este é um aspecto do ponto quatro do pacto bíblico: julgamento.[1]
Ao descrever a terra de Havilá, Moisés destacou suas
pedras e metais preciosos. (Alguns pensam que o bdélio era uma planta ou um
produto vegetal.) Esta é a única referência a objetos inanimados antes da
rebelião do homem que especificam sua qualidade única. Moisés entendeu que o
povo de seus dias compreenderia o valor de uma terra que possuia jóias e ouro.
O lugar original de responsabilidade do homem era uma terra esplêndida, e a presença
de ouro fino era uma de suas marcas de esplendor. A generosidade de Deus para
com o homem era, à primeira vista, patente a qualquer leitor ou ouvinte do
relato de Moisés sobre o ambiente em que Adão vivia.
Jóias e metais preciosos tem sido considerados como
objetos básicos de riqueza desde que temos registros da atividade humana. O
ouro tem sido uma forma de dinheiro há tanto tempo quanto podemos investigar.
Seu brilho, durabilidade, maleabilidade e respeito universal como metal de
valor contínuo fizeram dele um recurso econômico ímpar. Sua escassez em relação
ao alto valor posto pelo homem na posse
do metal (alta utilidade marginal) fez do ouro uma moeda universal. Ouro é algo
que vale a pena possuir. Mesmo Adão no jardim poderia ser considerado, em
retrospecto, como abençoado, Moisés deixou isso claro – o que faz ainda maior sua
rebelião ética. Em uma criação perfeita, que Deus pronunciou como boa, ouro e
jóias eram considerados como algo peculiar.
A - O Ouro como Dinheiro
O ouro é o dinheiro universal. Onde quer que os homens
comercializem e troquem, eles respeitam o outro como um meio de troca. Por quê?
O que é dinheiro, e por que deveria o ouro servir como seu arquétipo universal?
Dinheiro é simplesmente o bem mais
comerciável.[2] De um modo ou de outro, o dinheiro deve possuir as seguintes características: divisibilidade, durabilidade,
transportabilidade, fácil reconhecimento e escassez em relação à demanda
(alta utilidade marginal). Muitos objetos tem funcionado como dinheiro ao longo
da história humana. Gado, metais preciosos, sal, conchas e mesmo mulheres tem
servido como unidades contáveis. (Divisibilidade tem sempre sido um problema
com mulheres; meia mulher é pior do que nenhuma.) O dinheiro deve servir como
uma unidade comum de conta. Geralmente, é referido como uma “reserva de valor,”
embora a terminologia é enganosa porque infere que há algum valor objetivo no
dinheiro à parte do valor subjetivo imputado pelo homem quando opera em
mercados competitivos. Podemos dizer, de uma forma melhor, que o dinheiro é algo valioso para se guardar.
Mais importante, o dinheiro tem valor histórico. Ele tinha valor ontem,
ou talvez séculos atrás, e comerciantes podem assumir que uma forma particular
de dinheiro será também valiosa no futuro. Esta continuidade de valor através do tempo é soberana em estabelecer um
bem particular como uma unidade monetária aceitável.
Há um problema teórico com esta análise. Se o dinheiro
é valioso como dinheiro, hoje, porque era valioso como dinheiro ontem, como
podemos explicar a origem do dinheiro? Este problema foi solucionado pelo “teorema
da regressão” de Mises em seu livro de 1912, Teoria do Dinheiro e Crédito. Em algum ponto da história de uma
unidade monetária particular, ela deve ter sido valorada por outras de suas propriedades.
Talvez sua beleza tenha sido central. Possivelmente foi usada como um ornamento
ou como um objeto sagrado. O agente homem pode ter imputado valor ao metal ou
outro objeto por motivos diversos além de seu valor prévio como meio de troca.
O argumento de Mises é plausível, mas ainda é uma forma de “história
conjectural.” Quanto à origem do dinheiro, somente podemos especular.
O que realmente sabemos
é que Deus chama a atenção para a posição especial de ouro e as pedras
preciosas de Havilá. Ele espera que os homens reconheçam a natureza especial do
Seu dom para a humanidade ao fornecer ativos que são quase universalmente
reconhecidos como valiosos. Sua beleza aos olhos dos homens - uma indicação de
padrões universais de beleza entre eles - e sua escassez (alta utilidade
marginal) em relação à demanda universal pelas jóias ou ornamentos de ouro
resultam na criação do que parece ser um valor objetivo de ouro e jóias. Isto é
o mais próximo que devemos chegar de atribuir valor "objetivo" ou "intrínseco"
ao ouro, à prata, ou a alguma outra forma universalmente reconhecida de
dinheiro. A aceitabilidade quase universal do ouro em trocas voluntárias entre
os homens produziu valor histórico de tal durabilidade para o metal, que os
homens falam de valor intrínseco do ouro. Mas esse suposto "valor intrínseco
do ouro" é melhor entendido como um desejo
quase intrínseco pelo próprio ouro entre os homens. Mesmo assim, esse
desejo nunca é uma emoção fixa, independente de tempo e de lugar. Não há valor
de mercado fixado para o ouro, não há "preço inato" do ouro. O ouro
não é uma referência econômica fixa universal para todas as trocas de mercado.
No entanto, Deus providenciou ouro de alta qualidade para Adão, e Adão e seus
herdeiros eram (e são) instados a reconhecer a generosidade de Deus a esse
respeito. O dom do ouro era, de fato, um bem precioso. E ainda o é.
O uso do ouro e da prata como ornamentos é um fato
registrado pela Bíblia. A Concordância de
Strong enumera três colunas de entradas de rodapé para versículos que se
referem à prata, e três colunas e meia que se referem ao ouro. Inquestionavelmente,
a Bíblia registra a longa história de ambos os metais como formas primárias de
riqueza. "E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro "(Gn
13:2). O ouro e a prata eram unidades convenientes de conta porque eles
poderiam ser pesados em termos de uma unidade padrão de peso, o shekel (Gn
24:22). O Rei Asa pagou ouro e prata da tesouraria de Judá a Ben-Hadade como tributo
em dinheiro (1 Reis 15:18). O fato de que este pagamento foi perfeitamente aceitável
para Ben-Hadade indica quão universais estes metais eram em trocas.
Quão valioso é
o ouro? Ao fazer uma estimativa do valor incomparável dos julgamentos de Deus, Davi
usa o ouro como representante padrão de comparação, embora uma comparação
turva. Porém, o ouro é o mais alto padrão terreno pelo qual podemos comparar os
julgamentos de Deus (Salmo 19:9-10). O ouro é desejável; quão mas desejáveis
são os julgamentos de Deus! Esta mesma comparação é usada repetidamente por
autores bíblicos (Salmo 119:72, 127; Provérbios 3:14; 8:10, 19; 16:16; etc.).
Mesmo a Nova Jerusalém, o final e mais glorioso presente físico à humanidade
redimida, é referida como sendo feita de puro ouro (Ap. 21:18). Do jardim do
Éden à Nova Jerusalém, ouro é riqueza.
Sobre o autor: Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. North é um teórico reconstrucionista Cristão americano e historiador econômico. Já escreveu e foi co-autor de mais de 50 livros com tópicos variando entre teologia Cristã, economia e história. Visite seu website.
Sobre o texto: O texto é parte do capítulo 7 do livro Sovereignty and Dominion - An Economic Commentary on Genesis Vol. I. Baixe gratuitamente o livro aqui.
Traduzido e revisado por Matheus Henrique.
Parte II
[1] Ray
R. Suton, That You May Prosper: Dominion
By Covenant, 2a edição (Tyler, Texas: Institute for Christian Economics,
[1987] 1992), cap. 4. (http://bit.ly/rstymp);
Gary North, Unconditional Surrender:
God’s Program for Victory, 5a ed. (Powder Springs, Georgia: American
Vision, 2010), cap. 4.
[2] Ludwig
von Mises, The Theory of Money and Credit (New Haven, Connecticut: Yale
University Press, [1912] 1953), p. 32. (http://bit.ly/MisesTMC). Mises escreveu em 1949: “Na
negociabilidade dos vários bens e serviços revalecem consideráveis diferenças.
... São estas diferenças na negociabilidade dos vários bens e serviços que
criaram trocas indiretas. Um homem que no momento não pode adquirir o que ele
quer para a realização de sua própria casa ou empresa, ou que ainda não sabe
que tipo de bens que ele vai precisar no futuro incerto, chega mais perto de
seu objetivo final, se ele troca um bem menos comerciável por um mais comerciável.
Também pode acontecer que as propriedades físicas da mercadoria da qual ele
quer se desfazer (como, por exemplo, sua perecibilidade ou os custos de seu
armazenamento ou circunstâncias semelhantes) impelem-no a não mais esperar. Às
vezes, ele pode ser solicitado a se apressar em se desfazer do bem em questão,
porque ele tem medo de uma deterioração do seu valor de mercado. Em todos esses
casos, ele melhora a sua própria situação ao adquirir um bem mais comerciável,
mesmo que este bem não seja adequado para satisfazer diretamente nenhuma de
suas próprias necessidades. ... Dinheiro é um meio de troca. É o bem mais comerciável
que as pessoas adquirem porque eles querem oferecê-lo mais tarde em atos de
troca interpessoal.” Mises, Ação Humana
(New Haven, Connecticut: Yale University Press, 1949), p. 398. (Versão em
Português: http://zip.net/byn7k4)