sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A Falácia da Janela Quebrada



O brasileiro precisa aprender a falácia da janela quebrada. Elaborada por Frédéric Bastiat, em curtas linhas, ela diz o seguinte: se eu quebrar a janela do meu vizinho, essa aparente destruição será benéfica para a economia pois forçará o vizinho a comprar mais vidro para a janela, movimentando o mercado de vidros.

Economistas intervencionistas acreditam e pregam que, se o governo gastar dinheiro em obras públicas monumentais, projetos gigantescos, educação, saúde e afins, ou, em outras palavras, se o governo aumentar absurdamente seus gastos, estará estimulando a economia, ajudando assim, um mercado esfriado.

Ocorre que, assim como no caso da janela quebrada, há efeitos indesejáveis não observados também. Da mesma maneira que o vidraceiro lucrou com o vidro quebrado, todos aqueles que se beneficiariam do dinheiro que o dono da casa usaria CASO A JANELA não tivesse sido quebrada, estarão agora em desvantagem. Em suma, a janela quebrada movimenta artificialmente algumas áreas da produção e prejudica outras.

Precisamos entender que o governo gastar muito não significa um estímulo real à economia. O motivo é simples: o dinheiro que o governo gasta não é dele. É meu. É seu. Quanto mais ele gasta, mais NÓS deixamos de gastar. Quanto mais ele gasta, mais NÓS deixamos de produzir.  Esta é, em suma, a crítica fundamental da ciência econômica (a ortodoxa, e não a podridão ideológica travestida de ciência) à intervenção estatal, que quanto mais o estado pratica espoliação para financiar seus projetos, MAIS ele onera setores produtivos e, aumenta os custos da produção e, consequentemente, DIMINUI a capacidade produtiva do país e o bem-estar geral. Toda política socialista é assim. Está fadada ao fracasso. O que muda é quanto tempo demora para evidenciar-se tal fracasso (dependendo da gradação da política socialista e do capital acumulado pelo livre mercado no país).

É por este motivo que o capitalismo livre mercado, com uma defesa rígida da propriedade privada dos meios de produção e das entradas monetárias provindas do seu uso, é o ÚNICO sistema capaz de GERAR riqueza e aumentar, progressivamente, o bem-estar geral.

Por Matheus Henrique.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A Lei de Comte e a História

Por R. J. Rushdoony

A historiografia agnóstica e ateísta começa com um ato fundamental de fé, a fé de que Deus nada tem a ver com a história. Essa premissa nada tem a ver com a ciência ou com a história: é um teorma pré-teórico através do qual toda fatualidade é analisada. Isso, Lucrécio afirmou aberta e claramente: "O princípio básico a que nos devemos ater como nosso principal é que nada jamais fora criado por divino poder."[1] Através deste ato de fé é a história declarada ser a arena da ação humana, a parte de qualquer determinação ou operação divinas.

Feita tal premissa, os acadêmicos então prosseguem em aplicá-la à história. A história, assim, torna-se simplesmente a luta e o desenvolvimento do homem num universo desprovido de sentido. Essa aplicação é, então, tomada como “prova” da premissa mesma que a produziu! Claramente, isto é um raciocínio cíclico: é um raciocício de fé em fé, e culpado do próprio processo do qual acusa os Cristãos.

Um exemplo clássico é a “Lei dos Três Estágios” de Augusto Comte (1798-1857) em A Filosofia Positiva. Comte negou a Deus; portanto, a presença de Deus na história era mitológica, e o progresso na história era o progresso da teologia à ciência positivista. Os três estágios pelo qual cada ramo do conhecimento passa são, portanto, o Teológico ou fictício; o Metafísico ou abstrato; e o Científico ou positivo. O homem passa de um desejo pelo significado a um reconhecimento pragmático de que significado não existe e deve, na realidade, ser analisado metodologicamente e pragmaticamente. Através desse esquema simples, Comte aplicou a doutrina da evolução social (que muito precedeu a evolução biológica) à história e relegou a teologia à idade do mito. Que o esquema geral de Comte ainda é tão extensivamente adotado, é evidência do poder da fé sobre o fato, porque a história claramente mostra um quadro bem diferente.

É possível, com bastante precisão e por conveniência, dividir o desenvolvimento do pensamento em três bem diferentes estágios, esses, sim, sobremodo aparentes na história. O primeiro estágio do pensamento humano foi a cosmovisão político-mágica. A não ser pelos Hebreus, essa perspectiva governou toda a antiguidade, governava o Império Romano na era Cristã e, desde então, contina a governar o mundo não Cristão. Para entendermos o significado da cosmovisão político-mágica, é importante definirmos o que é mágica.

Uma definição assim requer uma distinção entre a técnica e o propósito da mágica. Muito comumente, a mágica é explicada em termos de técnicas primitivas e é, assim, expelida da cosmovisão moderna. Entretanto, a mágica é melhor definida em termos de seu propósito; as técnicas tem variado de cultura para cultura, mas o propósito permanece intacto. O propósito da mágica é ganhar controle autônomo sobre o homem, sobre a natureza e sobre o sobrenatural, controle sobre a totalidade do que realmente existe, como quer que isso seja definido. A ciência moderna, tendo firmemente abandonado suas origens Cristãs, é governada cada vez mais por mágica, por um desejo de controle total sobre a realidade. Na perspectia bíblica, a ciência é uma atividade necessária da sociedade e do homem piedosos ao passo que eles buscam entender e subjugar a terra sob Deus e em obediência ao Seu mandato cultural dado na criação. Na fé mágica, o homem almeja o controle total um ato em desprezo, desafio e descrença.

Desde o começo da história, um dos melhores, se não um dos mais fáceis, meios de exercer este controle tem sido pelo controle político. Como resultado, mágica e política fizeram aliança desde cedo. A consequência foi que, na antiguidade, a salvação não era religiosa; a salvação era política. A religião era um aspecto subordinado da vida antiga, simplesmente um departamento do estado, uma divisão de bem-estar social e obras públicas. A orientação principal do homem era política; pode-se dizer que sua religião era política, se usarmos religião como veículo de salvação. O estado e seus governantes, nesta comovisão político-mágica, eram, em certo sentido, divinos: eram os controladores da totalidade da realidade. A comovisão político-mágica suplantou, assim, Deus e a religião com uma ordem mágica totalitária.

Mesmo um olhar passageiro em culturas antigas e não Cristãs revela a prevalência dessa ordem políto-mágica. A adoração a Baal no Oriente Médio era a adoração dos senhores, naturais e políticos, que governavam toda a realidade.  Os governantes políticos prontamente adotavam o baalismo em vista de comandar aquele controle total oferecido por esta cosmovisão político-mágica. A adoração a Moloque, com sua demanda por sacrifícios humanos, era político-mágica, e Moloque significava literalmente “rei.” Os curandeiros das tribos indígenas Americanas tinham pouca relação com religião; sua função era mágica, e a medicina era uma faceta de seu controle sobre a realidade. As tentativas do césaro-papismo de absorver a Igreja Cristã representa uma tentativa de reduzir a igreja a um aspecto da ordem político-mágica, em oposição a permitir que a igreja esmague aquela ordem e a refaça numa ordem religiosa.

O segundo estágio do pensamento humano tem sido o religioso ou Cristão. Com a vinda de Cristo, o estágio religioso, anteriormente altamente restringido aos Hebreus, agora iniciava sua caminhada em direção à conquista do mundo. O resultado foi a guerra imediata entre Cristo e os césares, que nada mais fora que uma batalha entre a cosmovisão politico-mágica e a cosmovisão bíblica. É o costume, agora, dos novos mitologistas, tratar a perseguição dos Cristãos como majoritariamente lendária. A realidade é muito diferente, entretanto. Roma engendrou uma tentativa de varrer o Cristianismo. Primeiramente, isso se deu pelo assassinato judicial de membros seletos e líderes. Finalmente, tornou-se a tentativa de assassinato em massa um povo inteiro. Foi uma longa e terrível batalha, mas o império, embora possuísse o poder da espada e de forma selvagem o utilizasse, finalmente perdeu.

Em Jesus Cristo a vida foi restaurada  de uma cosmovisão político-mágica a uma cosmovisão religiosa. Na queda de Adão, sua tentativa de ser como Deus (Gn 3:5), nasceu a perspectiva político-mágica. Na tentação de Cristo, a cosmovisão político-mágica foi vencida. Vida e salvação foram restauradas a uma dimensão religiosa.

O resultado foi uma nova historiografia. A velha fora nulificada. Ela simplesmente narrava a conquista de poder e era antiquada em tudo mais. Ao invés de movimento e progresso na história, a história antiga simplesmente citava poder e controle. Santo Agostinho apontou o conflito da história, a Cidade de Deus e a Cidade do Homem, entre a religião bíblica, entre o Cristianismo, e a ordem político-mágica. A história, portanto, tem um propósito, o triunfo da cidade celestial, e é, portanto, apta para o progresso. Há desenvolvimento em ambas as cidades, conforme cada uma exercita as implicações de suas pressuposições. O único desenvolvimento que Platão poderia visionar era um de grandes controle sobre o homem, uma ordem comunizada, porque sua perspectiva era político-mágica. Em Agostinho, a meta está aberta à imaginação: as cidades crescerão, não em controle, mas em suas auto-consciências epistemológicas, e o futuro é tanto certo como desconhecido. O progresso da história Ocidental é único na história do mundo; é simplesmente um produto do triunfo da cosmovisão bíblica, a substituição das ordens político-mágicas pela religião Cristã.

O terceiro estágio está agora em evidência: a tenttiva de restaurar a ordem político-mágica. A cosmovisão Cristã foi introduzida extensivamente em cada continente. Os leões adormecidos da ordem político-mágica levantam-se por toda parte. Na cultura Ocidental, eles estavam ativos nos avivamentos neo-platonistas, no Aristotelianismo, na Renascença e no Iluminismo. A ONU hoje é a ordem político-mágica mundial, e virtualmente o são também todas as nações. As igrejas foram largamente capturadas pela mágica e, de acordo, tem um evangelho social e político. A salvação tornou-se política novamente, e a salvação Cristã é ferozmente denunciada como irrelevante e obscurantista. A batalha ocorre entre o estado como deus e Deus como Deus.

Portanto, não é presunçoso postular a ascenção de ainda outro estágio, uma vez que Deus é Deus e Ele prevalecerá: uma ordem Cristã triunfante ao redor da terra, e a supressão da cosmovisão político-mágica. Uma vez que Deus tem tudo a ver com a história, cada amanhã é em termos dEle. Não há outra história.


Sobre o autor: Rousas John Rushdoony (25 de abril de 1916 - 08 de fevereiro de 2001) foi um filósofo calvinista, historiador e teólogo e é amplamente creditado como o pai do Reconstrucionismo Cristão e uma inspiração para o movimento de educação domiciliar cristão moderno. Seus seguidores e críticos tem argumentado que seu pensamento exerce considerável influência sobre a direita cristã evangélica.

Sobre o texto: O texto traduzido aqui é o capítulo 10 do livro The Biblical Philosophy of History.



[1] Esta tradução é dada por Gordon H. Clark: A Christian Philosophy of Education (Grand Rapids: Eerdmans, 1946), 31. Esta sentença de De Rerum Nature I, 148-150, é dada no livro Lucretius on The Nature of Things (Bohn’s Classical Library, 1904), 10, de John Selby Watson, como “nosso princípio primeiro deve daí tirar seu começo, QUE NADA É JAMAIS DIVINAMENTE GERADO DO NADA.”

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Valor do Ouro - Parte II

B. Monopólio e Impureza

Quando os homens, seja como cidadãos ou como funcionários do governo, adulteram o teor de ouro e prata nas moedas, o desastre segue como resultado. Quando os corações dos homens são corrompidos, eles arriscam-se na produção de moeda adulterada e de bens de consumo corrompidos (Isaías 1:22).[1] Reis tem praticado tal engodo monetário desde que eles existem. Eles derramam metais mais baratos junto à prata ou ao ouro usado para convertê-los em lingotes ou moedas. Eles substituem as notas de papel ou cheques ou dígitos de computador por os metais preciosos e, em seguida, eles multiplicam as notas, cheques, ou dígitos de computador. Multiplica-se o dinheiro, sobem os preços e aumenta a redistribuição de riqueza através do engano. O governo civil incentiva a fraude, seja diretamente (degradação de valor, impressão dinheiro) ou indiretamente (banco central e bancos comerciais). Quando as autoridades do governo civil estampam um selo numa moeda ou numa nota atestando que uma quantidade e pureza específicas de um metal precioso estão contidas em uma moeda (ou que uma determinada quantidade deste metal está na reserva para a troca imediata pela nota de papel) e, posteriormente, falsificam o processo de cunhagem ou imprimem mais notas do que há de metal na reserva, eles, assim, agem de forma fraudulenta. Primeiro, criam um monopólio da emissão de dinheiro, e então abusam deste monopólio governamental. Eles põe o dinheiro fiduciário em circulação pela compra de recursos econômicos escassos do mercado. O estado, portanto, aumenta o seu consumo através da cobrança do "imposto invisível" da inflação monetária.

O monopólio do dinheiro irroga perigos a todos, mas os cidadãos mais alertas e os beneficiários do estado se favorecem. As autoridades não podem resistir muito tempo à tentação de cobrança do imposto invisível da inflação de preços. É verdade que Bizâncio foi abençoada com uma cunhagem de ouro estável por mais de 700 anos, mas esse caso foi único na história do homem.[2]

Por esse motivo, a inflação da oferta de moeda tem sido uma característica da história humana desde o início dos registros históricos. Governos trapaceiam. Governos civis honestos não são os criadores de dinheiro; eles são, no máximo, certificadores de dinheiro. É por isso que a Bíblia repetidamente adverte sobre o pecado de pesos e medidas fraudulentos.[3] Isso está ligado à justiça (Lv 19: 33-37;[4] Dt 25:13-16[5].). Quando Jeremias comprou o campo do seu parente, ele "subscreveu a evidência, e fechou-a e levou testemunhas, e pesou ele o dinheiro numa balança" (Jer. 32:10). O dinheiro, neste caso, era 17 siclos de prata (Jr 32:9). O aviltamento da moeda não é nada menos do que adulterar os pesos e medidas, seja por cunhadores privados, falsificadores, ou funcionários do Estado.

A abolição do padrão-ouro no século XX, durante e depois da Primeira Guerra, levou diretamente a uma inflação universal, revolução e ciclos comerciais de expansão e recessão nesse mesmo período histórico. Não há escapatória da lei moral de Deus, mesmo que economistas profissionais não reconheçam a existência de tal ordem moral. Os padrão ouro e prata para moedas, ou padrões múltiplos de moedas livremente intercambiáveis, é o resultado direto da aplicação da lei bíblica.

A abolição de pesos e medidas honestos através da criação do sistema bancário de reservas fracionárias, impressão de moeda, aviltamento de moeda, ou raspagem de moeda, deve inevitavelmente resultar em repercussões econômicas e sociais desagradáveis. Quando alguém emite um recibo por metal de uma certa pureza e peso, ele deve ter exatamente aquilo na reserva. Emitir mais recibos de reserva (notas bancárias) do que a quantidade de metal realmente existente é nada menos do que adulterar as medidas, pois os resultados são idênticos ao aviltamento de moeda. É o mesmo pecado; e deve resultar no mesmo julgamento. Vivemos num universo que é pessoal e governado por uma lei moral. Crises econômicas são os dispositivos imbutidos autorreguladores – imbutidos no homem e na criação – que  refream os homens em sua busca por fazer o mal. Pesos desonestos, dinheiro desonesto, autoridades desonestas e culturas desonestas andam de mãos dadas.

Conclusão

Embora o Império Romano seja, hoje, nada mais do que pó, suas moedas de ouro e de prata ainda podem ser trocadas por bens econômicos escassos. Os Césares estão em suas tumbas já há milênios, sua autoridade está há muito destruída, mas as moedas que carregam suas faces podem ainda comprar bens e serviços. Os homens ainda imputam valor a metais preciosos muito tempo depois de eles cessarem de imputar valor a um dado regime político. Moedas de metais preciosos duram mais que governos civis. O ouro pode ser dinheiro. A prata pode ser dinheiro. Assim tem sido desde o começo da história escrita, e assim será até o fim.
      O ouro de Havilá era bom. Era ouro de alta qualidade. Era ouro desejável. Porém, mais do que isso, ele não era tão facilmente falsificável, especialmente por governos civis iníquos.[6] Isso é mais do que podemos dizer sobre notas bancárias, cartões de créditos e dinheiro fiduciário não lastreado.

Sobre o autor: Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. North é um teórico reconstrucionista Cristão americano e historiador econômico. Já escreveu e foi co-autor de mais de 50 livros com tópicos variando entre teologia Cristã, economia e história. Visite seu website.

Sobre o texto: O texto é parte do capítulo 7 do livro Sovereignty and Dominion - An Economic Commentary on Genesis Vol. I. Baixe gratuitamente o livro aqui.

Traduzido e revisado por Matheus Henrique.

Parte I



[1] Gary North, Restoration and Dominion: An Economic Commentary on the Prophets (Dallas, Georgia: Point Five Press, 2012), cap. 3.
[2] “Byzantine Coinage,” Wikipedia.
[3] R. J. Rushdoony, Institutes of Biblical Law (Nutley, New Jersey: Craig Press, 1973), pp. 468–72.
[4] Gary North, Boundaries and Dominion: An Economic Commentary on Leviticus, 2a ed. (Dallas, Georgia: Point Five Press, [1994] 2012), cap. 19.
[5] Gary North, Inheritance and Dominion: An Economic Commentary on Deuteronomy, 2nd ed. (Dallas, Georgia: Point Five Press, [1999] 2012), cap. 65.
[6] Gary North, Honest Money: The Biblical Blueprint for Money and Banking (Ft. Worth, Texas: Dominion Press, 1986). (http://bit.ly/gnmoney)