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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Vocação

Por Gary North

"A ética protestante."Ouvimos esta frase o tempo todo. Geralmente, as pessoas falam da ética Protestante como alguma coisa que pertencia às gerações passadas do povo americano (ou inglês, ou holandês), mas que está morta hoje em dia. De fato, o único lugar em que isto parece florescer é o Japão, exceto pelo fato de que os japoneses não são protestantes. Mas, o que quer que isto seja, ou foi, a maioria das pessoas está convencida de que é algo do passado, uma característica de uma civilização Cristã que há muito se foi.

Temos que dizer, com toda honestidade, que todos os remanescentes da velha ética protestante estão batidos em nossos dias. O Humanismo fez progresso do período de 1860 até 1960, mas aí o capital roubado da cultura protestante começou a acabar. A cultura das drogas, a contra-cultura dos hippies, o colapso da performance das escolas públicas, a apatia dos trabalhadores e a crescente hostilidade entre gerações, tudo isto combinado abalou a fé das pessoas na cultura humanista e, ainda assim, eles não retornaram à fé de seus antepassados, o Cristianismo ortodoxo. A produtividade no trabalho caiu. É a menor da história americana e britânica. O que podemos fazer para reverter essas tendências?

A coisa óbvia a fazer é pregar um evangelho da redenção totalmente esférico: redenção pessoal, redenção econômica e redenção cultural. A lei de Deus se aplica a todas as esferas da vida. As bênçãos descritas em Deuteronômio 28:1-14 ainda estão disponíveis a uma sociedade que se arrepende. A ética do trabalho é um subproduto da fé cristã; onde a fé é restaurada, essa ética reaparecerá. O problema que enfrentamos hoje é este: mesmo aqueles que expressam sua fé em Jesus Cristo não têm entendimento algum a respeito de vocação. A vocação foi um componente básico do Protestantismo, e especialmente do Calvinismo, nos séculos XVI e XVII. As pessoas sabiam o que esta palavra significada. Hoje, não sabem mais.

Vocação: Geral e Especial

A Bíblia nos ensina que há uma vocação especial de Deus para o Seu povo. Ele os chama para fé em Jesus Cristo. Isto envolve abandonar o estilo de vida ímpio do passado. Deus chama os homens a um novo modo de vida. Ele os restaura à completa filiação ética (João 1:12). Esta é a doutrina da adoção. “Clame pelo nome do Senhor,” é uma frase bíblica familiar. Cristo disse “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:44). Deus chama Seu povo a fé em Cristo. Este chamado é, às vezes, conhecido como “vocação eficaz”, e é também conhecido como “vocação especial”. É um chamado para a salvação.

A vocação geral refere-se aos homens em geral. Cada homem é chamado a sujeitar a terra para a glória de Deus (Gênesis 1:28). Este é um chamado para trabalhar debaixo da soberania geral e providência de Deus. É a tarefa do homem de exercer domínio. Este chamado geral é a vocação do homem (“vocal”, ou “voz”). A vocação de um homem é o trabalho da sua vida, uma forma de serviço a Deus, quer ele reconheça que está sob Deus ou não.

A vocação geral assumiu grande importância durante a Reforma Protestante. Lutero e Calvino reforçavam que todo trabalho piedoso e honesto é aceitável a Deus, e que não deveria haver distinção alguma de natureza ética entre um ministro e um fazendeiro. Há distinções funcionais, é claro, motivo pelo qual a Bíblia estabelece certos requerimentos pessoais para os homens servirem como líderes da Igreja (1 Timóteo 3), mas não há distinções éticas. Nenhum homem é mais santo diante de Deus por causa do trabalho que tem.

Esta doutrina libertou os homens do opressão psicológica de sentir-se inferior por causa de seu trabalho. Se qualquer trabalho de um homem é aceitável a Deus, então é vantajoso pagar um homem para trabalhar o melhor que ele puder. Deus honra competência e a concede mais ainda para aqueles que se humilham diante dele e que tentam melhorar seu desempenho. Um bom encanador ganha mais respeito por causa seu trabalho do que um pregador preguiçoso. A questão aqui refere-se à diligência, não ao tipo de trabalho realizado.

Esta é claramente uma doutrina libertadora. Ela conclama a todos os homens que trabalhem duro e honestamente. Ela ensina aos homens que, não importa o que eles fazem para ganhar a vida, vale a pena fazê-lo bem. Isto, por sua vez, aumenta a produção econômica, pois os homens se esforçam para trabalhar de forma mais inteligente e com menos desperdício. Eles se esforçam para dar bom testemunho de si mesmos diante de Deus, e ao fazerem-no, dão bom testemunho de si diante dos homens. Isto significa mais riqueza para todos os membros do mercado, pois todos são beneficiários de um trabalho eficiente - todos, exceto aqueles que são ineficientes, preguiçosos ou incompetentes, que enfrentam uma maior concorrência do que antes. Esses merecem o que recebem.

A vocação geral é universal. Todos os homens serão responsabilizados por seu trabalho, e eles serão recompensados no céu, ou amaldiçoados no inferno, em termos de suas vocações gerais (Lucas 12: 47-48; l Coríntios 3). Este tipo de obrigação moral de trabalhar duro e honestamente pressiona os homens a melhorarem seu desempenho. É uma forma de auto-governo, e a sociedade não tem de impor sanções diretas sobre os homens a fim de colher os frutos do auto-governo. A conversão generalizada dos homens a uma forma de Cristianismo que prega o carácter vinculativo da vocação geral vai produzir um aumento da riqueza per capita na sociedade. As pessoas se esforçarão mais, e trabalharão de maneira mais inteligente.

Qual Vocação?

Tenho sido economicamente bem sucedido até agora na minha vida. Por causa da meu sucesso público e visível, muitas vezes alguns homens me perguntam, especialmente os mais jovens, quais são as regras do sucesso financeiro na vida. Os Cristãos que me perguntam isto, às vezes me perguntam também o que eu acho que eles deveriam fazer para ganhar a vida.

Eu tenho uma resposta pronta para isto. Relaciona-se com a doutrina bíblica da vocação. Não é uma resposta complicada, e a maioria dos Cristãos vêem a verdade neste meu conselho. O que me surpreende, entretanto, é que eles nunca ouviram nada parecido antes. Nenhum pastor os aconselhou. Nenhum pai sentou-se com eles para lhes falar sobre estas regras básicas para a ocupação de um Cristão. Aqui estão elas:

1) Avalie suas capacitades de forma precisa
2) Qual o trabalho mais importante que você pode fazer?
3) Qual o trabalho mais importante que você pode fazer no qual poucos podem substituí-lo?

Um homem que tem ainda que uma vaga ideia das respostas a essas três perguntas tem um bom palpite sobre o que deve fazer de sua vida. Não é fácil conduzir este questionário, mas é vital. Deus requer que cada homem o faça.

Capacidades: Quanto mais você tem, mais difícil é a decisão. O homem com capacidades limitadas, exceto para uma única habilidade, tem mais facilidade em tomar esta decisão. Ele sabe o que deve fazer. Mas alguém que tem múltiplos talentos - e isto inclui a maioria dos homens – terá uma dura avaliação a fazer. "Que tipo de trabalho mais me apetece? Quais são os que eu faço melhor? Quais são aqueles que eu estaria disposto a fazer para o resto da minha vida? Quais que são aqueles que eu não aguentaria fazer por muito tempo? Quais habilidades que eu deveria procurar melhorar, caso me seja dada a oportunidade?"

Você deve ser rigorosamente honesto aqui. Você provavelmente deve consultar outras pessoas: professores, pais, pastor, empregador, e até mesmo um serviço de teste vocacional, se necessário. Você deve enfrentar a si mesmo. Você também deve enfrentar avaliações de você partindo de outras pessoas. Você estará servindo em um mercado, afinal. Acostume-se com a idéia de ter que levar a sério opiniões de outras pessoas a respeito de seus talentos.

Importância do trabalho: Se um homem pode fazer bem diversas coisas, então ele terá que lidar com o problema de achar uma ocupação adequada às suas habilidades. Se ele consegue falar cinco línguas estrangeiras fluentemente, o que ele deveria fazer com seu talento? Ensinar na escola? Em que nível? Traduzir para uma corporação multinacional? Traduzir para uma agência federal? Traduzir livros para uma editora? Juntar-se a um time Wycliffe de tradução da Bíblia? Há diversas possibilidades. Níveis salariais são apenas um meio de tomar esta decisão. Existem outros.

Eu digo às pessoas para usarem esta regra de ouro em sua tomada de decisão. Tente olhar para frente 40 anos, ou para quando você achar-se velho demais para este trabalho. Quando você olhar para trás em sua vida, o que você vai pensar de seu trabalho? Ele honrou a Deus? Você deixou uma grande herança para trás para os seus filhos? Será que seus filhos cresceram com a formação moral para lidar com a sua herança de uma maneira piedosa? Você deu um monte de dinheiro para a caridade? Você dedicou sua vida inteira em serviço, em vez de gastá-la por puro dinheiro? Foi uma boa decisão você aceitar esse chamado como o trabalho da sua vida? Se você mesmo tentar responder a essas perguntas com antecedência, é bem mais mais provável que você não irá se decepcionar quando se perguntar de novo em 40 anos.

Capacidade de ser substituído: Isto é algo que poucos homens consideraram antecipadamente. Eles nunca deveriam deixar de fazê-lo. Não é suficiente selecionar o trabalho mais importante que você pode fazer. Você tem que perguntar a si mesmo: "Se eu fosse sair, ou morrer, este trabalho seria rapidamente preenchido por alguém tão eficaz como eu, e pelo mesmo salário?"Se a vaga é fácil de ser preenchida rapidamente e pelo mesmo salário, então a pessoa que a detém agora não distinguiu-se pelo nível de seu desempenho. Se um humanista pode fazer o trabalho de um Cristão tão bem, então há algo de errado com o trabalho do Cristão. Se seu trabalho é bom, então provavelmente há algum outro trabalho que ele poderia fazer que Deus quer preenchido por um Cristão.

Hoje, poucos Cristãos operam em termos da doutrina da vocação. Eles não pensam sobre como eles são importantes, como Cristãos, em sua vocação. Eles não entendem como devem fornecer únicos e exclusivos serviços Cristãos para seus empregadores. Em suma, eles não pensam como Cristãos.

O trabalho que um homem faz pode ser importante aos seus próprios olhos, ou aos olhos de outros, mas, permanecer no que parece ser o trabalho mais importante quando Deus poderia usar as mesmas habilidades para algo muito mais vantajoso em outro trabalho, então tal homem está desperdiçando seu talento. Qualquer homem que não puder dizer que ele, como um trabalhador Cristão, é insubstituível em seu trabalho, deve considerar procurar por um novo emprego. Se ele é facilmente substituível, então é melhor olhar em volta e ver se há algum outro trabalho importante a sua disposição no qual ele seria mais difícil de substituir.

Em suma, vá onde não há muita concorrência. Vá para onde a sua presença naquele lugar irá elevar o próprio lugar. Vá onde você, como Cristão, irá gerar imitadores, mesmo entre os não-crentes. Vá onde você terá a oportunidade de treinar outras pessoas em suas vocações. Se você não está agora em tal posição, mas poderia estar, então você não está exercendo sua vocação de maneira adequada. A capacidade de ser substituído é uma maneira de testar o seu lugar na vida. Você não iria querer ser apenas mais uma engrenagem de uma máquina econômica vasta e impessoal.

A Semana de Trabalho de 40 Horas

Nenhum Cristão deve trabalhar apenas 40 horas por semana, a menos que seja deficiente fisicamente de alguma forma. Poucos homens ficam ricos ou famosos trabalhando apenas 40 horas por semana. Poucas pessoas se destacam em suas profissões trabalhando apenas 40 horas por semana. Seis dias trabalharás – e certamente não apenas 7 horas por dia. Trabalhe 9 ou 10.

Agora, veja bem, eu acho que, em circunstâncias normais, pessoas assalariadas devem trabalhar não mais de 40 horas para um empregador. Uma vez que tão poucos homens trabalharão 60 horas por semana, você estrará jogando seu tempo fora (vendendo-o muito barato) se trabalhar por de forma assalariada mais de 40 horas por semana. Esse extra de 10 ou 20 horas deve ser investido servindo à igreja, ou estabelecendo um negócio familiar, ou na obtenção de uma educação melhor, ou em serviços comunitários. Não estou falando de homens que trabalham por comissão, ou os trainees em um estabelecimento profissional que podem tornar-se parceiros do negócio se eles trabalharem duro o suficiente. Mas um homem que está disposto a trabalhar 60 horas por semana deve trabalhar pelo menos 20 para si mesmo. Use o salário para alimentar a família; trabalhe as 20 horas adicionais para acumular capital, seja para sua aposentadoria, ou para o lançamento de um negócio familiar. Eu me tornei financeiramente independente fazendo apenas isso. E recomendo fortemente.

Um trabalho assalariado raramente é uma vocação integral. Pode ser um meio para uma vocação. Um homem pode ser hábil em um campo que não paga bem o suficiente para sustentá-lo em tempo integral. Ele usa suas 40 horas de trabalho por semana para se sustentar em sua vocação. Isso é o que eu faço com o meu boletim econômico, Remnant Review. A renda deste empreendimento permite-me doar a maior parte de meu tempo e energia para o Institute for Christian Economics, do qual eu não recebo salário ou outra compensação (exceto psicológica). Minha vocação é o meu trabalho em economia Cristã. Minha fonte de renda é o meu boletim econômico. Eu faço distinção entre os dois trabalhos.

Somente naqueles trabalhos raros, como por exemplo o pastorado, onde um homem é assalariado e, apesar disso, precisa dar mais de 40 horas por semana, deveria tal vocação ser considerada. Mesmo neste caso, este homem está dando estas 20 horas extras para Deus. Ele não está dando-as para algum empregador que as converterá em lucros para si mesmo e sua corporação. Ninguém em perfeito juizo trabalha 60 horas por semana para outra pessoa, apenas pelo dinheiro. Há maneiras melhores para fazer um dinheirinho: mais produtivas, mais gratificantes e mais rentáveis. Além disso, mais agradáveis a Deus. Nunca dê de bandeja a um empregador o que você deveria estar dando a Deus, especialmente seu tempo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Os primeiros Cristãos eram socialistas?

Por Alberto Mansueti

São três as passagens mais citadas por gente de esquerda sobre este ponto. Porém, cada uma delas tem sua explicação:

1 – Jesus expulsou a chicotadas os mercadores do Templo. Sim, mas é preciso ler corretamente os evangelhos: Mateus 21, Marcos 11, Lucas 19 e João 2. Não eram simples “mercadores”; eles comercializavam a religião. A cada festa da Páscoa, vendiam as pombas e animais para os sacrifícios no Templo. E os cambistas trocavam o dinheiro grego e romano dos peregrinos por moedas judaicas, as únicas autorizadas para as oferendas. O templo, “Casa de Oração”, e não de negócios, se encontrava tomado por todo esse ruído e desordem.

Jesus nada tinha contra o trabalho e o comércio: ele e sua família eram carpinteiros; boa parte de seus discípulos eram pescadores; e suas maiores lições sobre o Reino de Deus são as “parábolas agrícolas”, com vinhas e propriedades, senhores e trabalhadores: nada tinham contra o capitalismo nem a favor do socialismo. O comércio com o sagrado é algo distinto; por isso aquele ato foi o equivalente a hoje expulsar a chicotadas esses pastores que enriquecem com dízimos e ofertas, “promessas” e “pactos”.

2 – E o “jovem rico”? Leia com atenção Mateus 19, Marcos 10 e Lucas 18. Um camelo não passa pelo buraco de uma agulha; é impossível. Não é como dizem, que “Agulha era o nome de uma porta da cidade”; ou “uma corda, e a palavra se parecia com um camelo”, etc. A pergunta do jovem rico nada tem que ver com riqueza, mas com vida eterna: “Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?” A resposta correta é: nada; porque a salvação é pela graça. “Ao Senhor pertence a salvação”: Salmo 37.39, Isaías 33.22, Jonas 2.9. E o jovem o sabia. Porém, Jesus quis que ele pensasse novamente sobre a questão, por isso repassou com ele os mandamentos; e o jovem respondeu que os observava desde a infância. Então Jesus lhe mandou que desse sua fortuna aos pobres, porém, não para ganhar o mesmo na eternidade com Deus, nem para fazer “justiça social”, mas para desligar-se de seus afãs e negócios, e se tornasse um discípulo: “segue-me”, tal como Mateus.

A vida eterna com Deus não é algo que alguém faz por merecer cumprindo essa ou aquela regra, como creem os “sinergistas” (pelagianos e semipelagianos católico-romanos, arminianos e evangélicos wesleyanos) e a grande maioria das pessoas. Não é algo que os ricos podem comprar com suas riquezas; nem tampouco “ganhar” dando suas riquezas aos pobres, como dizem (mas não fazem) os socialistas. E o discipulado? Bem, esse é outro assunto: para isso, sim, é necessário deixar muitas coisas, e o jovem não estava pronto. Essas são as duas lições de Jesus ao jovem — e aos discípulos que ali estavam. Quando disse que era mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que alguém entrar por seus méritos na Salvação, os discípulos lhe fizeram outra pergunta: “Sendo assim, quem pode ser salvo?”. Resposta de Jesus: “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível”.

3 – No livro de Atos dos Apóstolos se diz que os primeiros cristãos tinham seus “bens em comum”. Lendo bem o contexto se vê que isso ocorreu só em uma das primeiras igrejas: a de Jerusalém, porém não nas outras. E como os cristãos de Jerusalém não podiam manter-se, as outras igrejas lhe fizeram uma coleta: Gálatas 2.10, 1Coríntios 16.1-3, 2Coríntios 8-9, e Romanos 15.25-27.
E por que isso aconteceu? Por duas razões: (1) os primeiros cristãos, quase todos judeus, eram perseguidos pelos demais judeus, em todo lugar, como se lê ao longo de todo o livro de Atos; e em Jerusalém, a capital, a perseguição era mais virulenta. (2) Eles estavam esperando o “Dia do Senhor”, o castigo divino sobre a cidade, por haver ela rejeitado e crucificado o Messias, e perseguido a seus seguidores. No capítulo 24 do Evangelho de Mateus, Jesus profetiza esse terrível dia de juízo, anunciando os sinais que viriam: falsos messias, guerras e rumores de guerras, fome, terremoto e pestes, perseguições e apostasias, e o “abominável da desolação”. Seria a “grande tribulação” que marcaria o fim, não do mundo, mas de uma era: a era judaica; e o começo de outra, a era cristã.

Esperando o dia de juízo, os cristãos viviam como em um gueto, quase na clandestinidade. Por isso não tinham negócios nem bens próprios; e no ano 70 d.C., quando se cumpriu a profecia de Jesus, e o juízo se abateu com as legiões romanas de Tito, os cristãos fugiram, ou já haviam deixado a cidade. Haviam se mudado, e estavam em diáspora, pregando o evangelho do Reino. A comunhão de bens foi uma medida excepcional, para uma emergência, somente naquela cidade; não é algo que se tome como norma no Novo Testamento. Por isso a coleta. E o casal Ananias e Safira, que mentiu sobre o preço de um terreno, foi condenado por sua mentira, não por resistir ao socialismo.

Concluindo, por que não se sabe a verdade? Por que essas interpretações corretas da Bíblia não são amplamente divulgadas e conhecidas?

Porque vão de encontro a crenças muito arraigadas e populares, que as más exegeses apóiam. (1) Não contam como realmente foi o caso dos mercadores expulsos a chicotadas porque isso seria contrariar as negociatas religiosas que são tão comuns a muitos pastores de hoje em dia; por isso fazem concessões em apoio às ideias socialistas. (2) Põem a frase do camelo e o buraco da agulha como favorável ao socialismo, porque esse diálogo, lido da forma correta, não vai contra os ricos, nem contra o capitalismo, mas contra a popular crença católico-romana de que o Céu é um prêmio que se ganha em razão de uma “boa conduta”. (3) E se o caso dos “bens em comum” dos cristãos de Jerusalém fosse lido apropriadamente, seria necessário mencionar a feroz perseguição dos judeus aos cristãos, e o terrível juízo de Deus sobre os judeus e sua cidade sagrada; e isso poderia soar “anti-semita”, e não é “politicamente correto”, entende? Por isso retorcem Mateus 24, para dizer que fala do “Fim do Mundo” vindouro, quando não é o caso. E utilizam o caso de Ananias e Safira para apoiar teses socialistas, quando também não se trata disso.

Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Sobre o autor: Alberto Mansueti é advogado e cientista político.
Site do autor:  http://albertomansueti.com/.

Texto originalmente publicado no jornal boliviano El Día.